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A visita t\u00e9cnica contou com o defensor p\u00fablico e coordenador da 2\u00aa regional da DPE\/BA, Jos\u00e9 Raimundo Campos, e a defensora p\u00fablica e coordenadora do N\u00facleo de Integra\u00e7\u00e3o, Cristina Ulm, a ouvidora-geral da Defensoria, Sirlene Assis, e Ma\u00edra Vida, coordenadora do Centro de Refer\u00eancia de Combate ao Racismo e \u00e0 Intoler\u00e2ncia Religiosa Nelson Mandela, vinculado \u00e0 Secretaria de Promo\u00e7\u00e3o da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi). A preocupa\u00e7\u00e3o em ouvir esta comunidade se d\u00e1 ap\u00f3s uma s\u00e9rie de relatos de viola\u00e7\u00e3o de direitos, que envolvem viol\u00eancia policial e cerceamento do direito de ir e vir. O grupo est\u00e1 preocupado desde o evento em que acarretou na\u00a0morte de oitos ciganos integrantes de uma mesma fam\u00edlia na regi\u00e3o sudoeste da Bahia. O caso teve in\u00edcio no dia 13 de julho, quando dois policiais militares foram mortos no Distrito de Jos\u00e9 Gon\u00e7alves, na zona rural de Vit\u00f3ria da Conquista. Desde ent\u00e3o, dezenas de ciganos denunciam persegui\u00e7\u00e3o em cidades vizinhas, como Itamb\u00e9. As abordagens violentas se concentraram no per\u00edodo de persegui\u00e7\u00e3o aos acusados de matar os policiais, no entanto existem consequ\u00eancias ainda no dia a dia desta popula\u00e7\u00e3o. \u201cEu creio que existe uma persegui\u00e7\u00e3o por ser cigano mesmo, mas todos devem entender que n\u00e3o \u00e9 porque um cigano rouba que os outros roubam. Se um morador, como voc\u00ea, da sua etnia, da sua ra\u00e7a, rouba, estupra, mata, voc\u00ea e sua fam\u00edlia v\u00e3o pagar por esses crimes? N\u00e3o v\u00e3o, ent\u00e3o por que n\u00f3s ciganos temos que pagar pelos erros dos outros?\u201d. Este foi um dos desabafos de Carmen (nome fict\u00edcio), m\u00e3e de quatro filhos, durante visitada Defensoria P\u00fablica do Estado da Bahia (DPE\/BA) e sua Ouvidoria Cidad\u00e3o ao bairro Felipe Achy em Itamb\u00e9, onde 10 fam\u00edlias ciganas vivem h\u00e1 cerca de 20 anos. \u201cAqui dentro de Itamb\u00e9 nunca sentimos esse trauma, de racismo, inclusive da pol\u00edcia, todos nos respeitavam, hoje \u00e9 dif\u00edcil a gente at\u00e9 circular pela cidade com medo de nos reconhecerem como ciganos. No dia 18 de julho os policiais invadiram algumas casas com agress\u00f5es f\u00edsicas e verbais, no dia 20 precisamos sair um tempo de nossas casas para proteger principalmente as crian\u00e7as e os adolescentes que ficaram traumatizados at\u00e9 hoje\u201d, narra Carmen, que ainda relatou ter escondido e deixado de usar suas vestimentas t\u00edpicas para evitar o reconhecimento. Para Sirlene Assis, que j\u00e1 havia conectado virtualmente a comunidade\u00a0\u00e0 Defensoria no projeto Roda de Conversa no in\u00edcio de agosto, estar presente na comunidade e ouvir pessoalmente os relatos \u00e9 uma forma de se aproximar, al\u00e9m de entender melhor os conflitos. \u201cAssim podemos fazer essa media\u00e7\u00e3o dos poderes p\u00fablicos estaduais e municipais na garantia de direitos da popula\u00e7\u00e3o cigana do estado da Bahia, foi um momento enriquecedor, de escuta qualitativa, como instrumento para poder mediar essa viola\u00e7\u00e3o de direitos que est\u00e1 ocorrendo\u201d, explica. \u201cNessa situa\u00e7\u00e3o n\u00f3s entendemos que seria interessante uma atua\u00e7\u00e3o institucional, uma vez que trata-se de uma grave viola\u00e7\u00e3o de direitos de uma comunidade \u00e9tnica que est\u00e1 sendo perseguida e nesse sentido ficamos bastante satisfeitos com a resposta da istra\u00e7\u00e3o da Defensoria P\u00fablica encaminhar justamente a coordenadora do N\u00facleo de Integra\u00e7\u00e3o e a ouvidora-geral para nos fortalecer neste acompanhamento\u201d, afirma o defensor Jos\u00e9 Raimundo, que informa ainda que ser\u00e1 elaborado um relat\u00f3rio em parceria com a Sepromi. Ma\u00edra Vida, coordenadora do Centro de Refer\u00eancia Nelson Mandela, caracteriza a situa\u00e7\u00e3o relatada como de \u2018terror tang\u00edvel\u2019. \u201cEssas pessoas, ainda que n\u00e3o estejam, no momento, sob uma a\u00e7\u00e3o sistem\u00e1tica de cerco, sofrem efeitos no que diz respeito ao modo de vida; como isso atingiu as pr\u00e1ticas internas da comunidade e sua esfera p\u00fablica de relacionamentos. Vemos em tudo isso mais uma express\u00e3o e faceta do racismo como uma manifesta\u00e7\u00e3o\u00a0 de como o estado na figura das pol\u00edcias e de outras tantas institui\u00e7\u00f5es decide se relacionar com a sociedade\u201d, explica. Di\u00e1logo com a Pol\u00edcia Militar A convite do comandante do Comando de Policiamento da Regi\u00e3o (R) Sudoeste, da Pol\u00edcia Militar da Bahia, coronel Ivanildo da Silva, a equipe esteve na sede da corpora\u00e7\u00e3o em Vit\u00f3ria da Conquista tamb\u00e9m no dia 17 de agosto, para ouvir e dialogar sobre a situa\u00e7\u00e3o com a comunidade cigana. Tamb\u00e9m estiveram presentes o tenente-coronel Fernando Leite e o tenente-coronel Eduardo Moreira. \u201cEsse gesto de nos encontrar com o comando do Sudoeste faz parte do fortalecimento da rede que a Ouvidoria tem criado com as institui\u00e7\u00f5es p\u00fablicas na perspectiva de garantir os direitos e estreitar esse relacionamento na regi\u00e3o Sudoeste para a defesa dos direitos humanos, resguardando n\u00e3o s\u00f3 os povos ciganos mas tamb\u00e9m os servidores de seguran\u00e7a p\u00fablica do estado. Queremos que todas as pessoas possam viver com dignidade, no direito de viver e existir\u201d, conta Sirlene. O coronel Ivanildo ressaltou a import\u00e2ncia da sua participa\u00e7\u00e3o na Roda de Conversa realizada pela Defensoria, quando p\u00f4de ouvir diretamente as ang\u00fastias da comunidade cigana. \u201cA partir dali constru\u00edmos uma ponte para este assunto, fortalecendo essas institui\u00e7\u00f5es para atender melhor o cidad\u00e3o. Esse elo \u00e9 importante, para que tomemos conhecimento de fatos que desconhec\u00edamos, para que possamos adotar aquelas medidas necess\u00e1rias e para que fatos dessa natureza n\u00e3o voltem a ocorrer\u201d, explica o comandante. Jos\u00e9 Raimundo considerou positiva a agenda, principalmente pelo Comando ter dedicado um tempo \u00e0 escuta das den\u00fancias. \u201cEles deixaram tamb\u00e9m as portas bastante abertas justamente para que a gente encaminhe situa\u00e7\u00f5es de viol\u00eancia e a tentativa da poss\u00edvel\u00a0 identifica\u00e7\u00e3o dos policiais militares que praticaram essa viol\u00eancia, para justamente autorizar abertura de inqu\u00e9ritos policiais, pois pelo menos a posi\u00e7\u00e3o do comando do Sudoeste foi de que v\u00e3o reprimir todo tipo de situa\u00e7\u00e3o de viol\u00eancia contra as comunidades ciganas\u201d, relata. Quem tamb\u00e9m percebeu a abertura dos coron\u00e9is para ouvir os relatos das institui\u00e7\u00f5es presentes foi a coordenadora do Centro de Refer\u00eancia Nelson Mandela. \u201cVimos um aceno de genu\u00edno interesse em exercitar uma escuta sens\u00edvel do que levamos, desde a circunst\u00e2ncia deflagradora do que n\u00f3s entendemos ter sido de fato um\u00a0 massacre, porque n\u00e3o podemos ver como natural a ocorr\u00eancia de tantas mortes em um grupo relativamente pequeno de pessoas circunscrito a uma comunidade que j\u00e1 sofre preconceito, at\u00e9 as novas denuncias\u201d, comenta Ma\u00edra Vida. \u201cNa oitiva percebemos muito sofrimento e discrimina\u00e7\u00e3o com os ciganos e sentimos a necessidade de nos aproximar desses povos, que por diversos motivos a Defensoria ainda est\u00e1 distante e se aproximando agora para acolher suas demandas. \u00c9 muito forte o que ela fala em se descaracterizar para n\u00e3o expor a fam\u00edlia, sofrendo algum tipo de repres\u00e1lia. Levamos a demanda para o comando, que foram bem recebidas e se mostraram presentes, atentos aos questionamentos do povo cigano e comprometidos em combater essas a\u00e7\u00f5es arbitr\u00e1rias. Ent\u00e3o, fazendo essa ponte com o Comando, tendo essa interlocu\u00e7\u00e3o, encontramos no Coronel uma pessoa disposta a ouvir\u201d, \u00e9 como resume o dia de atividades a coordenadora do N\u00facleo de Integra\u00e7\u00e3o Cristina Ulm. Entenda o caso\u00a0 O tenente Luciano Libarino Neves, de 34 anos, e o soldado Robson Brito de Matos, de 30 anos\u00a0foram mortos a tiros no dia 13 de julho, no distrito de Jos\u00e9 Gon\u00e7alves. As\u00a0armas e os telefones celulares foram roubados pelos suspeitos e recuperados pela PM nos dias seguintes. Na mesma semana do crime, o Tribunal de Justi\u00e7a da Bahia (TJ-BA) expediu mandado de pris\u00e3o contra todos os suspeitos. Na ocasi\u00e3o, tr\u00eas adultos e um adolescente j\u00e1 havia sido mortos. Os adultos morreram em confronto com a pol\u00edcia e o adolescente foi baleado em uma farm\u00e1cia no Centro de Vit\u00f3ria da Conquista e morreu no hospital. Depois do crime, a fam\u00edlia alega que ou a ser perseguida por policiais. Oito irm\u00e3os, todos ciganos, foram mortos, sendo dois deles\u00a0adolescentes de 13\u00a0e\u00a017 anos. O\u00a0pai dos oito irm\u00e3os est\u00e1\u00a0preso, ap\u00f3s tamb\u00e9m ter sido baleado por miliares. Ele tamb\u00e9m \u00e9 suspeito de matar os dois policiais. Na \u00faltimo dia 4, o presidente do ICB, Rog\u00e9rio Ribeiro, procurou o G1 e divulgou o \u00e1udio da m\u00e3e dos oito mortos. Na grava\u00e7\u00e3o, a mulher \u2013 que n\u00e3o foi identificada por medo de repres\u00e1lias \u2013 pede ao filho que continua foragido para se entregar \u00e0 pol\u00edcia. \u201c(\u2026)\u00a0pense, meu filho. \u00c9 tua m\u00e3e. Por tudo o que n\u00f3s j\u00e1 perdemos em nossa vida. Me ajude, meu filho. Eu n\u00e3o quero perder voc\u00ea n\u00e3o, meu filho. Se entregue para o \u2018Seu\u2019 Rog\u00e9rio. Ele \u00e9 uma pessoa boa, uma pessoa do cora\u00e7\u00e3o muito bom. Ele est\u00e1 fazendo um enorme esfor\u00e7o para salvar voc\u00ea com vida. Pelo amor de Deus, meu filho, se entregue com sua irm\u00e3\u201d, pede a mulher na grava\u00e7\u00e3o. \u201cN\u00e3o deixa eu sofrer mais n\u00e3o, meu filho. Porque se voc\u00ea morrer, eu vou morrer tamb\u00e9m. Me ajude, meu filho. Pelo amor de Deus, me ajuda. Se entrega meu filho\u201d. De acordo com Rog\u00e9rio Ribeiro, o ICB quer levar o jovem at\u00e9 uma delegacia, para que ele responda vivo pela suspeita do crime. Ele tamb\u00e9m falou sobre a morte dos outros ciganos. \u201cSe depender da gente, ele \u00e9 preso pela Pol\u00edcia Civil e responde pelo crime. Mas a Pol\u00edcia Militar quer matar, assim como fez com os outros. A gente viu os\u00a0v\u00eddeos\u00a0das outras mortes e h\u00e1 sinais de tortura nos corpos. Eles falam de confronto, mas n\u00e3o h\u00e1 confronto. Em um dos casos, a arma que eles apresentaram desse suposto confronto est\u00e1 intacta\u201d, disse o presidente do ICB. \u201cEles n\u00e3o fazem a per\u00edcia para comprovar que h\u00e1 sinais de tortura nos corpos dos irm\u00e3os mortos. N\u00f3s queremos a apura\u00e7\u00e3o dos corpos\".","keywords":"ciganos, Itamb\u00e9, ","datePublished":"2021-08-25T15:01:14-03:00","dateModified":"2021-08-25T15:01:14-03:00","author":{"@type":"Person","name":"Joana Martins","url":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com\/author\/joana-martins\/","sameAs":[],"image":{"@type":"ImageObject","url":"https:\/\/secure.gravatar.com\/avatar\/36ac507bea6f2e6a67b1a38ab0bd73bf69a2ba1221d3e97be852d4f0dbdf3218?s=96&d=mm&r=g","height":96,"width":96}},"editor":{"@type":"Person","name":"Joana Martins","url":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com\/author\/joana-martins\/","sameAs":[],"image":{"@type":"ImageObject","url":"https:\/\/secure.gravatar.com\/avatar\/36ac507bea6f2e6a67b1a38ab0bd73bf69a2ba1221d3e97be852d4f0dbdf3218?s=96&d=mm&r=g","height":96,"width":96}},"publisher":{"@type":"Organization","name":"Ag\u00eancia Sert\u00e3o","url":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com","logo":{"@type":"ImageObject","url":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com\/wp-content\/s\/2020\/12\/Logo-Agencia-Sertao-160x60-1.png","width":"160","height":"50"}},"image":[{"@type":"ImageObject","@id":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com\/2021\/08\/25\/defensoria-publica-tenta-conter-violencia-e-preconceito-contra-ciganos-na-regiao-de-vitoria-da-conquista\/#primaryimage","url":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com\/wp-content\/s\/2021\/08\/sanitize_180821-064331-1024x768-1-1200x900.jpeg","width":"1200","height":"900"},{"@type":"ImageObject","url":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com\/wp-content\/s\/2021\/08\/sanitize_180821-064331-1024x768-1-1200x900.jpeg","width":"1200","height":"900"},{"@type":"ImageObject","url":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com\/wp-content\/s\/2021\/08\/sanitize_180821-064331-1024x768-1-1200x675.jpeg","width":"1200","height":"675"},{"@type":"ImageObject","url":"https:\/\/agenciasertao.informativomineiro.com\/wp-content\/s\/2021\/08\/sanitize_180821-064331-1024x768-1-900x900.jpeg","width":"900","height":"900"}]},
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Para Sirlene Assis, que j\u00e1 havia conectado virtualmente a comunidade\u00a0\u00e0 Defensoria no projeto Roda de Conversa no in\u00edcio de agosto, estar presente na comunidade e ouvir pessoalmente os relatos \u00e9 uma forma de se aproximar, al\u00e9m de entender melhor os conflitos. \u201cAssim podemos fazer essa media\u00e7\u00e3o dos poderes p\u00fablicos estaduais e municipais na garantia de direitos da popula\u00e7\u00e3o cigana do estado da Bahia, foi um momento enriquecedor, de escuta qualitativa, como instrumento para poder mediar essa viola\u00e7\u00e3o de direitos que est\u00e1 ocorrendo\u201d, explica. \u201cNessa situa\u00e7\u00e3o n\u00f3s entendemos que seria interessante uma atua\u00e7\u00e3o institucional, uma vez que trata-se de uma grave viola\u00e7\u00e3o de direitos de uma comunidade \u00e9tnica que est\u00e1 sendo perseguida e nesse sentido ficamos bastante satisfeitos com a resposta da istra\u00e7\u00e3o da Defensoria P\u00fablica encaminhar justamente a coordenadora do N\u00facleo de Integra\u00e7\u00e3o e a ouvidora-geral para nos fortalecer neste acompanhamento\u201d, afirma o defensor Jos\u00e9 Raimundo, que informa ainda que ser\u00e1 elaborado um relat\u00f3rio em parceria com a Sepromi. Ma\u00edra Vida, coordenadora do Centro de Refer\u00eancia Nelson Mandela, caracteriza a situa\u00e7\u00e3o relatada como de \u2018terror tang\u00edvel\u2019. \u201cEssas pessoas, ainda que n\u00e3o estejam, no momento, sob uma a\u00e7\u00e3o sistem\u00e1tica de cerco, sofrem efeitos no que diz respeito ao modo de vida; como isso atingiu as pr\u00e1ticas internas da comunidade e sua esfera p\u00fablica de relacionamentos. Vemos em tudo isso mais uma express\u00e3o e faceta do racismo como uma manifesta\u00e7\u00e3o\u00a0 de como o estado na figura das pol\u00edcias e de outras tantas institui\u00e7\u00f5es decide se relacionar com a sociedade\u201d, explica. Di\u00e1logo com a Pol\u00edcia Militar A convite do comandante do Comando de Policiamento da Regi\u00e3o (R) Sudoeste, da Pol\u00edcia Militar da Bahia, coronel Ivanildo da Silva, a equipe esteve na sede da corpora\u00e7\u00e3o em Vit\u00f3ria da Conquista tamb\u00e9m no dia 17 de agosto, para ouvir e dialogar sobre a situa\u00e7\u00e3o com a comunidade cigana. Tamb\u00e9m estiveram presentes o tenente-coronel Fernando Leite e o tenente-coronel Eduardo Moreira. \u201cEsse gesto de nos encontrar com o comando do Sudoeste faz parte do fortalecimento da rede que a Ouvidoria tem criado com as institui\u00e7\u00f5es p\u00fablicas na perspectiva de garantir os direitos e estreitar esse relacionamento na regi\u00e3o Sudoeste para a defesa dos direitos humanos, resguardando n\u00e3o s\u00f3 os povos ciganos mas tamb\u00e9m os servidores de seguran\u00e7a p\u00fablica do estado. Queremos que todas as pessoas possam viver com dignidade, no direito de viver e existir\u201d, conta Sirlene. O coronel Ivanildo ressaltou a import\u00e2ncia da sua participa\u00e7\u00e3o na Roda de Conversa realizada pela Defensoria, quando p\u00f4de ouvir diretamente as ang\u00fastias da comunidade cigana. \u201cA partir dali constru\u00edmos uma ponte para este assunto, fortalecendo essas institui\u00e7\u00f5es para atender melhor o cidad\u00e3o. Esse elo \u00e9 importante, para que tomemos conhecimento de fatos que desconhec\u00edamos, para que possamos adotar aquelas medidas necess\u00e1rias e para que fatos dessa natureza n\u00e3o voltem a ocorrer\u201d, explica o comandante. Jos\u00e9 Raimundo considerou positiva a agenda, principalmente pelo Comando ter dedicado um tempo \u00e0 escuta das den\u00fancias. \u201cEles deixaram tamb\u00e9m as portas bastante abertas justamente para que a gente encaminhe situa\u00e7\u00f5es de viol\u00eancia e a tentativa da poss\u00edvel\u00a0 identifica\u00e7\u00e3o dos policiais militares que praticaram essa viol\u00eancia, para justamente autorizar abertura de inqu\u00e9ritos policiais, pois pelo menos a posi\u00e7\u00e3o do comando do Sudoeste foi de que v\u00e3o reprimir todo tipo de situa\u00e7\u00e3o de viol\u00eancia contra as comunidades ciganas\u201d, relata. Quem tamb\u00e9m percebeu a abertura dos coron\u00e9is para ouvir os relatos das institui\u00e7\u00f5es presentes foi a coordenadora do Centro de Refer\u00eancia Nelson Mandela. \u201cVimos um aceno de genu\u00edno interesse em exercitar uma escuta sens\u00edvel do que levamos, desde a circunst\u00e2ncia deflagradora do que n\u00f3s entendemos ter sido de fato um\u00a0 massacre, porque n\u00e3o podemos ver como natural a ocorr\u00eancia de tantas mortes em um grupo relativamente pequeno de pessoas circunscrito a uma comunidade que j\u00e1 sofre preconceito, at\u00e9 as novas denuncias\u201d, comenta Ma\u00edra Vida. \u201cNa oitiva percebemos muito sofrimento e discrimina\u00e7\u00e3o com os ciganos e sentimos a necessidade de nos aproximar desses povos, que por diversos motivos a Defensoria ainda est\u00e1 distante e se aproximando agora para acolher suas demandas. \u00c9 muito forte o que ela fala em se descaracterizar para n\u00e3o expor a fam\u00edlia, sofrendo algum tipo de repres\u00e1lia. Levamos a demanda para o comando, que foram bem recebidas e se mostraram presentes, atentos aos questionamentos do povo cigano e comprometidos em combater essas a\u00e7\u00f5es arbitr\u00e1rias. Ent\u00e3o, fazendo essa ponte com o Comando, tendo essa interlocu\u00e7\u00e3o, encontramos no Coronel uma pessoa disposta a ouvir\u201d, \u00e9 como resume o dia de atividades a coordenadora do N\u00facleo de Integra\u00e7\u00e3o Cristina Ulm. Entenda o caso\u00a0 O tenente Luciano Libarino Neves, de 34 anos, e o soldado Robson Brito de Matos, de 30 anos\u00a0foram mortos a tiros no dia 13 de julho, no distrito de Jos\u00e9 Gon\u00e7alves. As\u00a0armas e os telefones celulares foram roubados pelos suspeitos e recuperados pela PM nos dias seguintes. Na mesma semana do crime, o Tribunal de Justi\u00e7a da Bahia (TJ-BA) expediu mandado de pris\u00e3o contra todos os suspeitos. Na ocasi\u00e3o, tr\u00eas adultos e um adolescente j\u00e1 havia sido mortos. Os adultos morreram em confronto com a pol\u00edcia e o adolescente foi baleado em uma farm\u00e1cia no Centro de Vit\u00f3ria da Conquista e morreu no hospital. Depois do crime, a fam\u00edlia alega que ou a ser perseguida por policiais. Oito irm\u00e3os, todos ciganos, foram mortos, sendo dois deles\u00a0adolescentes de 13\u00a0e\u00a017 anos. O\u00a0pai dos oito irm\u00e3os est\u00e1\u00a0preso, ap\u00f3s tamb\u00e9m ter sido baleado por miliares. Ele tamb\u00e9m \u00e9 suspeito de matar os dois policiais. Na \u00faltimo dia 4, o presidente do ICB, Rog\u00e9rio Ribeiro, procurou o G1 e divulgou o \u00e1udio da m\u00e3e dos oito mortos. Na grava\u00e7\u00e3o, a mulher \u2013 que n\u00e3o foi identificada por medo de repres\u00e1lias \u2013 pede ao filho que continua foragido para se entregar \u00e0 pol\u00edcia. \u201c(\u2026)\u00a0pense, meu filho. \u00c9 tua m\u00e3e. Por tudo o que n\u00f3s j\u00e1 perdemos em nossa vida. Me ajude, meu filho. Eu n\u00e3o quero perder voc\u00ea n\u00e3o, meu filho. Se entregue para o \u2018Seu\u2019 Rog\u00e9rio. Ele \u00e9 uma pessoa boa, uma pessoa do cora\u00e7\u00e3o muito bom. Ele est\u00e1 fazendo um enorme esfor\u00e7o para salvar voc\u00ea com vida. Pelo amor de Deus, meu filho, se entregue com sua irm\u00e3\u201d, pede a mulher na grava\u00e7\u00e3o. \u201cN\u00e3o deixa eu sofrer mais n\u00e3o, meu filho. Porque se voc\u00ea morrer, eu vou morrer tamb\u00e9m. Me ajude, meu filho. Pelo amor de Deus, me ajuda. Se entrega meu filho\u201d. De acordo com Rog\u00e9rio Ribeiro, o ICB quer levar o jovem at\u00e9 uma delegacia, para que ele responda vivo pela suspeita do crime. Ele tamb\u00e9m falou sobre a morte dos outros ciganos. \u201cSe depender da gente, ele \u00e9 preso pela Pol\u00edcia Civil e responde pelo crime. Mas a Pol\u00edcia Militar quer matar, assim como fez com os outros. A gente viu os\u00a0v\u00eddeos\u00a0das outras mortes e h\u00e1 sinais de tortura nos corpos. Eles falam de confronto, mas n\u00e3o h\u00e1 confronto. Em um dos casos, a arma que eles apresentaram desse suposto confronto est\u00e1 intacta\u201d, disse o presidente do ICB. \u201cEles n\u00e3o fazem a per\u00edcia para comprovar que h\u00e1 sinais de tortura nos corpos dos irm\u00e3os mortos. 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A Defensoria Pública realizou uma visita técnica a comunidade cigana de Itambé e sede do Comando da PM no sudoeste da Bahia, na último dia 17, para ajudar a resolver os conflitos sobre uma série de relatos de violação de direitos, que envolvem violência policial e cerceamento do direito de ir e vir dos ciganos na região de Vitória da Conquista.
A visita técnica contou com o defensor público e coordenador da 2ª regional da DPE/BA, José Raimundo Campos, e a defensora pública e coordenadora do Núcleo de Integração, Cristina Ulm, a ouvidora-geral da Defensoria, Sirlene Assis, e Maíra Vida, coordenadora do Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, vinculado à Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi). A preocupação em ouvir esta comunidade se dá após uma série de relatos de violação de direitos, que envolvem violência policial e cerceamento do direito de ir e vir.
“Eu creio que existe uma perseguição por ser cigano mesmo, mas todos devem entender que não é porque um cigano rouba que os outros roubam. Se um morador, como você, da sua etnia, da sua raça, rouba, estupra, mata, você e sua família vão pagar por esses crimes? Não vão, então por que nós ciganos temos que pagar pelos erros dos outros?”. Este foi um dos desabafos de Carmen (nome fictício), mãe de quatro filhos, durante visitada Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA) e sua Ouvidoria Cidadão ao bairro Felipe Achy em Itambé, onde 10 famílias ciganas vivem há cerca de 20 anos.
“Aqui dentro de Itambé nunca sentimos esse trauma, de racismo, inclusive da polícia, todos nos respeitavam, hoje é difícil a gente até circular pela cidade com medo de nos reconhecerem como ciganos. No dia 18 de julho os policiais invadiram algumas casas com agressões físicas e verbais, no dia 20 precisamos sair um tempo de nossas casas para proteger principalmente as crianças e os adolescentes que ficaram traumatizados até hoje”, narra Carmen, que ainda relatou ter escondido e deixado de usar suas vestimentas típicas para evitar o reconhecimento.
Para Sirlene Assis, que já havia conectado virtualmente a comunidade à Defensoria no projeto Roda de Conversa no início de agosto, estar presente na comunidade e ouvir pessoalmente os relatos é uma forma de se aproximar, além de entender melhor os conflitos. “Assim podemos fazer essa mediação dos poderes públicos estaduais e municipais na garantia de direitos da população cigana do estado da Bahia, foi um momento enriquecedor, de escuta qualitativa, como instrumento para poder mediar essa violação de direitos que está ocorrendo”, explica.
“Nessa situação nós entendemos que seria interessante uma atuação institucional, uma vez que trata-se de uma grave violação de direitos de uma comunidade étnica que está sendo perseguida e nesse sentido ficamos bastante satisfeitos com a resposta da istração da Defensoria Pública encaminhar justamente a coordenadora do Núcleo de Integração e a ouvidora-geral para nos fortalecer neste acompanhamento”, afirma o defensor José Raimundo, que informa ainda que será elaborado um relatório em parceria com a Sepromi.
Maíra Vida, coordenadora do Centro de Referência Nelson Mandela, caracteriza a situação relatada como de ‘terror tangível’. “Essas pessoas, ainda que não estejam, no momento, sob uma ação sistemática de cerco, sofrem efeitos no que diz respeito ao modo de vida; como isso atingiu as práticas internas da comunidade e sua esfera pública de relacionamentos. Vemos em tudo isso mais uma expressão e faceta do racismo como uma manifestação de como o estado na figura das polícias e de outras tantas instituições decide se relacionar com a sociedade”, explica.
Diálogo com a Polícia Militar
A convite do comandante do Comando de Policiamento da Região (R) Sudoeste, da Polícia Militar da Bahia, coronel Ivanildo da Silva, a equipe esteve na sede da corporação em Vitória da Conquista também no dia 17 de agosto, para ouvir e dialogar sobre a situação com a comunidade cigana. Também estiveram presentes o tenente-coronel Fernando Leite e o tenente-coronel Eduardo Moreira.
“Esse gesto de nos encontrar com o comando do Sudoeste faz parte do fortalecimento da rede que a Ouvidoria tem criado com as instituições públicas na perspectiva de garantir os direitos e estreitar esse relacionamento na região Sudoeste para a defesa dos direitos humanos, resguardando não só os povos ciganos mas também os servidores de segurança pública do estado. Queremos que todas as pessoas possam viver com dignidade, no direito de viver e existir”, conta Sirlene.
O coronel Ivanildo ressaltou a importância da sua participação na Roda de Conversa realizada pela Defensoria, quando pôde ouvir diretamente as angústias da comunidade cigana. “A partir dali construímos uma ponte para este assunto, fortalecendo essas instituições para atender melhor o cidadão. Esse elo é importante, para que tomemos conhecimento de fatos que desconhecíamos, para que possamos adotar aquelas medidas necessárias e para que fatos dessa natureza não voltem a ocorrer”, explica o comandante.
José Raimundo considerou positiva a agenda, principalmente pelo Comando ter dedicado um tempo à escuta das denúncias. “Eles deixaram também as portas bastante abertas justamente para que a gente encaminhe situações de violência e a tentativa da possível identificação dos policiais militares que praticaram essa violência, para justamente autorizar abertura de inquéritos policiais, pois pelo menos a posição do comando do Sudoeste foi de que vão reprimir todo tipo de situação de violência contra as comunidades ciganas”, relata.
Quem também percebeu a abertura dos coronéis para ouvir os relatos das instituições presentes foi a coordenadora do Centro de Referência Nelson Mandela. “Vimos um aceno de genuíno interesse em exercitar uma escuta sensível do que levamos, desde a circunstância deflagradora do que nós entendemos ter sido de fato um massacre, porque não podemos ver como natural a ocorrência de tantas mortes em um grupo relativamente pequeno de pessoas circunscrito a uma comunidade que já sofre preconceito, até as novas denuncias”, comenta Maíra Vida.
“Na oitiva percebemos muito sofrimento e discriminação com os ciganos e sentimos a necessidade de nos aproximar desses povos, que por diversos motivos a Defensoria ainda está distante e se aproximando agora para acolher suas demandas. É muito forte o que ela fala em se descaracterizar para não expor a família, sofrendo algum tipo de represália. Levamos a demanda para o comando, que foram bem recebidas e se mostraram presentes, atentos aos questionamentos do povo cigano e comprometidos em combater essas ações arbitrárias. Então, fazendo essa ponte com o Comando, tendo essa interlocução, encontramos no Coronel uma pessoa disposta a ouvir”, é como resume o dia de atividades a coordenadora do Núcleo de Integração Cristina Ulm.
Entenda o caso
O tenente Luciano Libarino Neves, de 34 anos, e o soldado Robson Brito de Matos, de 30 anos foram mortos a tiros no dia 13 de julho, no distrito de José Gonçalves. As armas e os telefones celulares foram roubados pelos suspeitos e recuperados pela PM nos dias seguintes.
Depois do crime, a família alega que ou a ser perseguida por policiais. Oito irmãos, todos ciganos, foram mortos, sendo dois deles adolescentes de 13 e 17 anos. O pai dos oito irmãos está preso, após também ter sido baleado por miliares. Ele também é suspeito de matar os dois policiais.
“(…) pense, meu filho. É tua mãe. Por tudo o que nós já perdemos em nossa vida. Me ajude, meu filho. Eu não quero perder você não, meu filho. Se entregue para o ‘Seu’ Rogério. Ele é uma pessoa boa, uma pessoa do coração muito bom. Ele está fazendo um enorme esforço para salvar você com vida. Pelo amor de Deus, meu filho, se entregue com sua irmã”, pede a mulher na gravação.
“Não deixa eu sofrer mais não, meu filho. Porque se você morrer, eu vou morrer também. Me ajude, meu filho. Pelo amor de Deus, me ajuda. Se entrega meu filho”.
De acordo com Rogério Ribeiro, o ICB quer levar o jovem até uma delegacia, para que ele responda vivo pela suspeita do crime. Ele também falou sobre a morte dos outros ciganos.
“Se depender da gente, ele é preso pela Polícia Civil e responde pelo crime. Mas a Polícia Militar quer matar, assim como fez com os outros. A gente viu os vídeos das outras mortes e há sinais de tortura nos corpos. Eles [policiais] falam de confronto, mas não há confronto. Em um dos casos, a arma que eles apresentaram desse suposto confronto está intacta”, disse o presidente do ICB.
“Eles não fazem a perícia para comprovar que há sinais de tortura nos corpos dos irmãos mortos. Nós queremos a apuração dos corpos”.